A arte de sobreviver a uma segunda-feira completamente desgovernada
Osmar era um homem comum, desses que acreditam que a vida é simples até tentar sair de casa numa segunda-feira. Ele acordou convencido de que finalmente teria um dia tranquilo — o que já era, por si só, um grande erro de cálculo emocional.
Abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o despertador piscando 07:54. Ele começava às 08:00. Jurou que havia colocado o alarme, mas o celular, aparentemente, discordava e estava empenhado em provar seu ponto.
Saltou da cama como um atleta em câmera lenta: com intenção, mas sem coordenação. Bateu o pé no pé da cama, praguejou mentalmente (porque o vocal ainda não tinha carregado) e saiu correndo para o banheiro. Osmar sempre teve a sensação de que seu banheiro trabalhava contra ele — e a prova disso veio quando o sabonete escorregou das mãos três vezes. Três. Se existisse campeonato de fuga, aquele sabonete era campeão mundial.
Quando finalmente conseguiu se vestir, percebeu que tinha colocado a camiseta ao avesso. Pensou em corrigir, mas decidiu que a moda moderna permitia ousadias. Ou pelo menos era o que ele dizia para si mesmo quando estava atrasado.
Saiu de casa com pressa, e a rua, claro, decidiu colaborar com uma fina chuva que só existe para molhar o moral das pessoas. Ela não refrescava, não lavava, não inspirava poetas. Só incomodava — como visita que chega sem avisar.
No ponto de ônibus, Osmar descobriu que o transporte coletivo seguia a filosofia “venho quando quiser”. Quando finalmente um ônibus apareceu, ele entrou e foi recebido por um perfume tão forte do passageiro ao lado que ele quase assinou um atestado de óbito.
Como se não bastasse, o motorista tinha diploma em “frenagens dramáticas”. Cada parada era uma experiência religiosa: Osmar quase viu Deus duas vezes e um antepassado que ele nem sabia que tinha.
Mas foi no meio do caos que ele percebeu algo curioso: quanto mais absurdo o dia ficava, mais engraçado se tornava. Ele começou a rir sozinho, e o pessoal do ônibus fez o que qualquer pessoa faria — fingiu que não viu.
Porque Osmar, naquele instante, entendeu uma verdade universal:
se a vida não faz sentido, o mínimo que ela pode fazer é render boas histórias.
E naquele dia, pelo menos, ela estava se superando.
Por Lyu Somah
Abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o despertador piscando 07:54. Ele começava às 08:00. Jurou que havia colocado o alarme, mas o celular, aparentemente, discordava e estava empenhado em provar seu ponto.
Saltou da cama como um atleta em câmera lenta: com intenção, mas sem coordenação. Bateu o pé no pé da cama, praguejou mentalmente (porque o vocal ainda não tinha carregado) e saiu correndo para o banheiro. Osmar sempre teve a sensação de que seu banheiro trabalhava contra ele — e a prova disso veio quando o sabonete escorregou das mãos três vezes. Três. Se existisse campeonato de fuga, aquele sabonete era campeão mundial.
Quando finalmente conseguiu se vestir, percebeu que tinha colocado a camiseta ao avesso. Pensou em corrigir, mas decidiu que a moda moderna permitia ousadias. Ou pelo menos era o que ele dizia para si mesmo quando estava atrasado.
Saiu de casa com pressa, e a rua, claro, decidiu colaborar com uma fina chuva que só existe para molhar o moral das pessoas. Ela não refrescava, não lavava, não inspirava poetas. Só incomodava — como visita que chega sem avisar.
No ponto de ônibus, Osmar descobriu que o transporte coletivo seguia a filosofia “venho quando quiser”. Quando finalmente um ônibus apareceu, ele entrou e foi recebido por um perfume tão forte do passageiro ao lado que ele quase assinou um atestado de óbito.
Como se não bastasse, o motorista tinha diploma em “frenagens dramáticas”. Cada parada era uma experiência religiosa: Osmar quase viu Deus duas vezes e um antepassado que ele nem sabia que tinha.
Mas foi no meio do caos que ele percebeu algo curioso: quanto mais absurdo o dia ficava, mais engraçado se tornava. Ele começou a rir sozinho, e o pessoal do ônibus fez o que qualquer pessoa faria — fingiu que não viu.
Porque Osmar, naquele instante, entendeu uma verdade universal:
se a vida não faz sentido, o mínimo que ela pode fazer é render boas histórias.
E naquele dia, pelo menos, ela estava se superando.
Por Lyu Somah

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