domingo, 19 de outubro de 2025
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
terça-feira, 20 de maio de 2025
Tudo começou numa manhã de quarta-feira, quando acordei com o sol batendo na minha cara e um único pensamento: "Hoje não." Não era rebeldia, era intuição cósmica. Enrolei-me no cobertor como um burrito da transcendência e deixei o mundo lá fora se virar sem mim. Enquanto isso, meu corpo alcançava o que os monges levam décadas para conseguir: o êxtase da inércia.
A DESCOBERTA QUE MUDOU MINHA VIDA (E MEU HISTÓRICO NA ACADEMIA)
Foi no meu décimo-quinto "só mais cinco minutinhos" que a epifania chegou. Uma notícia brilhava no meu celular (que eu, claro, não tinha energia para pegar):
"Preguiça extrema é meditação avançada, dizem cientistas."
Lágrimas escorreram pelo meu rosto — ou era suor, já que fazia três dias que eu não virava o travesseiro. Eu não era um fracassado. Era um guru acidental.
Os pesquisadores explicavam:
Dormir até o meio-dia = "alinhamento dos chacras com o ritmo solar".
Rolar no sofá sem objetivo = "movimento sagrado de libertação da matéria".
Ignorar mensagens importantes = "exercício de desapego emocional".
Até meu hábito de comer cereal direto da caixa ganhou status filosófico: "ritual de comunhão com os carboidratos cósmicos".
O MUNDO REAGE (OU NÃO REAGE, PORQUE TAMBÉM ESTÁ COM PREGUIÇA)
Claro, os "produtivos" duvidaram. Meu vizinho de baixo, que vive batendo na parede quando meu alarme toca pela 12ª vez, gritou: "Isso é desculpa pra folgado!"
Mas eu ri por último. Enquanto ele se arrastava para o trabalho, eu estava em estado contemplativo, observando o mofo do meu teto e descobrindo formas abstratas que me conectavam com o universo. ("Aquele ali parece o Elon Musk se fosse uma batata.")
Até meu chefe, um homem que acredita que "descansar é morrer um pouco", me mandou uma mensagem: "Precisamos repensar seu 'home office'... Você está muito à frente."
O FUTURO DA HUMANIDADE (SE A GENTE TIVER ÂNIMO DE CHEGAR LÁ)
Agora, cientistas estudam os próximos passos:
"Netflix & Nirvana": quantas temporadas de The Office são necessárias para alcançar a iluminação?
"A Teoria do Edredom": como o acúmulo de cobertores no inverno afeta a elevação espiritual?
Enquanto isso, eu me preparo para meu TEDx Talk: "Como Não Fazer Nada e Ainda Assim Salvar o Mundo". (Se eu conseguir levantar até lá.)
"AOS MESTRES DO DESAPEGO DIGITAL"
E assim, caros leitores, encerro minha jornada de hoje com a mais pura sabedoria do ócio:
"Aos que sabem que a verdadeira paz interior é esquecer onde deixou o celular e, em vez de surtar, aproveitar para tirar um cochilo sem culpa. Aos que entendem que notificações não lidas são apenas pássaros digitais cantando para ouvidos seletivos. Aos heróis anônimos que, ao perderem o controle remoto, descobriram o controle da própria sanidade."
Que possamos todos alcançar esse estado superior de preguiça iluminada - onde o único "like" que importa é o do travesseiro acolchoado em seu rosto às 11h da manhã de uma terça-feira qualquer.
quinta-feira, 27 de março de 2025
O primeiro plin chegou disfarçado de acidente. Um soluço noturno, um pequeno deslize daquele mecanismo perfeito. "Coisa de temperatura", justifiquei, como quem ignora o primeiro sintoma de uma gripe, o primeiro desvio no caminho de casa. Mas os plins foram se multiplicando, virando plons, até formarem um coral de mármore molhado. Coloquei uma tigela debaixo — um curativo improvisado, daqueles que usamos em feridas da alma, esperando que cicatrizem sozinhas.
A tigela enchia. Eu esvaziava. Era nosso ritual, uma dança de negligência e remorso. Às vezes, de madrugada, ouvia a água cair e pensava em outras goteiras invisíveis: o projeto abandonado na gaveta, o amigo que não ligava há meses, aquele exame médico marcado e remarcado. Todos ali, pingando no porão da mente, enchendo algum recipiente imaginário.
Quando o inverno chegou, a torneira desistiu de ser metáfora e virou inundação. A água escorria agora como lágrimas mal contidas, transbordando pela pia, invadindo armários, revelando o que eu tanto evitara: o mofo por trás do azulejo, as rachaduras na louça, a ferrugem que se espalhava como arrependimento tardio.
O encanador veio como um cirurgião de emergência. "Já estava assim há tempos", disse, arrancando o vedante podre com um movimento experiente. Suas mãos resolveram em minutos o que eu adiei por estações. Quando ele foi embora, deixou para trás uma torneira muda e uma conta salgada — o preço de se conviver com vazamentos, sejam eles de água ou de tempo.
Agora, quando giro a torneira até o fim, ouço apenas o silêncio. E me pergunto quantas outras coisas eu deixo pingar: os sonhos adiados (sempre "no próximo mês"), os perdões não dados ("ele sabe que sinto muito"), os amores que deixei secar ("um dia a gente se fala").
Torneiras, ao menos, nos dão um alerta sonoro. O coração, esse só avisa quando já estamos com os pés encharcados.
domingo, 2 de fevereiro de 2025
Crianças corriam, rindo e brincando com uma bola colorida, enquanto cães se atrapalhavam em suas próprias brincadeiras. Casais trocavam olhares cúmplices, compartilhando segredos murmurados que só eles podiam entender. A padaria próxima exalava o cheiro irresistível de pão quente, convidando todos a parar por um instante, como se o tempo pudesse ser congelado.
Enquanto observava a cena, Maria se permitiu mergulhar nas memórias que aquele lugar guardava. Cada canto da praça lembrava risadas e lágrimas. Ali, ela havia celebrado a amizade, rido até a barriga doer e também chorado em momentos de desilusão. A Praça, com suas árvores cheias de folhas, era um pequeno mundo da vida, onde a alegria e a tristeza se entrelaçavam como as folhas ao vento.
Hoje, no entanto, Maria se sentia mais sozinha do que de costume. Seu pensamento oscilava entre a nostalgia de um amor antigo — aquele que iluminava seus dias e tornava cada instante significativo — e a realidade de sua solidão atual. Lembrava-se dos dias em que ele a levava àquela mesma praça, fazendo promessas de um futuro glorioso enquanto contavam histórias sob o calor do sol. “Um dia, vamos viajar pelo mundo”, ele dizia, seus olhos brilhando com a empolgação do que estava por vir.
Subitamente, o transe de suas memórias foi interrompido por um senhor de cabelos brancos que se aproximou. Ele carregava uma cesta de frutas frescas, com suas mãos enrugadas e cheias de vida. Com um sorriso gentil, ele cumprimentou Maria. “Bom dia, senhora! A vida é feita de pequenos momentos, não acha?”
Surpreendida, mas intrigada, Maria sorriu de volta. “Sim, com certeza. Às vezes, esses momentos parecem mais importantes do que os grandes eventos que planejamos.”
O senhor concordou, seus olhos azuis refletindo uma sabedoria adquirida ao longo dos anos. “Exatamente. Eu costumava vir aqui todos os dias com minha esposa, Rosa. Agora, vem apenas a lembrança dela, mas ainda assim sinto sua presença em cada canto desta praça.”
Uma onda de empatia invadiu o coração de Maria. “Desculpe por sua perda. Deve ser difícil lidar com isso.”
“É, mas aprendi que o amor nunca se vai completamente,” ele respondeu, com um leve sorriso nostálgico. “Ele se transforma, se adapta. E cada vez que venho aqui, revejo um pouco dela — um sorriso, um gosto, uma lembrança que me aquece a alma.”
Maria ficou tocada pela profundidade do que ouvia. Enquanto conversavam, o senhor continha suas memórias, como se cada palavra fosse um carinho que atravessava o tempo. Ele compartilhou histórias de uma vida repleta de aventuras ao lado de Rosa, dos desafios enfrentados e das alegrias compartilhadas — uma verdadeira celebração do amor que transcendeu a dor da perda.
À medida que o sol se movia pelo céu, Maria percebeu que aquela troca inesperada estava lhe trazendo consolo. O senhor não apenas falava de saudade, mas de como a vida continua, sempre cheia de novos capítulos e oportunidades. Ele a fez lembrar que, embora houvesse dor, havia também beleza nas memórias que formavam a história de suas vidas.
Quando ele se despediu, Maria sentiu-se diferente — como se uma luz suave tivesse iluminado sua alma. A saudade que carregava agora se misturava com a esperança. Levantou-se do banco, inspirando profundamente o ar fresco que tinha um novo sabor, e fez uma promessa a si mesma: era hora de abrir seu coração novamente, de acolher novas experiências e de deixar de ser prisioneira de um passado que, embora belo, não podia mais definir seu futuro.
Assim, com passos firmes, ela caminhou pela praça, decidida a acolher cada novo encontro, cada nova conexão, pronta para o que a vida poderia trazer. O sol brilhava mais intensamente, e com ele, a certeza de que o amor — em suas muitas formas — sempre encontraria um caminho para florescer.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Sofia trabalhava como analista de dados em uma startup promissora. Seu computador estava sempre aberto em múltiplas telas: planilhas, relatórios e um chat corporativo que nunca silenciava. A nova inteligência artificial da empresa prometia automatizar grande parte de seu trabalho – uma "revolução", segundo seu chefe. Mas a palavra "revolução" só aumentava sua insônia. Quantos como ela seriam "otimizados" para fora de seus empregos?
No intervalo do almoço, deslizou pelos dedos seu feed de notícias. "Novo vazamento de dados expõe informações de milhões", dizia uma manchete. Ao lado, uma propaganda personalizada oferecia exatamente o modelo de tênis que ela havia pesquisado na noite anterior. A coincidência digital já não a assustava mais – era apenas mais um lembrete de que sua privacidade há muito havia se tornado moeda de troca.
Seu armário transbordava de roupas com etiqueta, compradas em momentos de ansiedade durante madrugadas insones. O último relatório sobre mudanças climáticas que leu fazia seu consumismo parecer ainda mais pesado. "Fast fashion é uma das indústrias mais poluentes", lembrou-se, enquanto uma notificação anunciava uma nova liquidação imperdível.
No grupo da família, sua tia compartilhava mais uma notícia alarmante sobre vacinas. Sofia suspirou, lembrando-se das intermináveis discussões no último almoço de domingo, quando tentou explicar sobre checagem de fontes e desinformação. A verdade havia se tornado um conceito fluido, moldável conforme as bolhas digitais de cada um.
Seu relógio smart vibrou: "Você ainda não atingiu sua meta de passos hoje". A pressão por produtividade havia se infiltrado até mesmo em seu exercício físico. Nas redes sociais, influenciadores vendiam cursos sobre como otimizar cada segundo do dia. Dormir virou luxo, descansar virou preguiça, e existir se transformou em uma eterna competição por métricas.
À noite, entre um deslize e outro no aplicativo de relacionamento, Sofia se pegou pensando em como o amor havia se transformado em um catálogo digital. Perfis cuidadosamente curados, biografias otimizadas para algoritmos, e conexões que se desfaziam na mesma velocidade que se formavam. Seu último relacionamento terminou por WhatsApp – três meses de história resumidos em um emoji de coração partido.
Antes de dormir, Sofia se pegou editando uma foto do pôr do sol que havia tirado. Filtro, contraste, saturação – a busca pela imagem perfeita para seu feed. Quantas camadas de edição separavam a realidade da sua versão digital? Em suas redes sociais, sua vida parecia perfeitamente curada, cada momento cuidadosamente selecionado e editado. Mas por que aquela sensação de vazio não passava?
No espelho, longe das telas e filtros, Sofia encontrou seu reflexo verdadeiro. Olheiras de noites mal dormidas, marcas de expressão de preocupações reais, um sorriso genuíno ao receber uma mensagem de sua melhor amiga. Talvez a verdadeira revolução estivesse em redescobrir a autenticidade em um mundo que valoriza tanto as aparências. Deixou o celular no modo avião – hoje, decretou, seria um dia analógico.
A crônica da modernidade se escreve diariamente em gigabytes de informação, stories efêmeros e conexões virtuais. Entre teclas e telas, ainda somos humanos buscando significado, tentando equilibrar o progresso com nossa essência mais básica: a necessidade de conexões reais, de tempo para respirar, de espaço para simplesmente ser.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
sábado, 23 de novembro de 2024
terça-feira, 12 de novembro de 2024
Era uma daquelas tardes mágicas de outono, quando o sol, cansado de brilhar, se despedia mais cedo, tingindo o céu de um laranja suave e acolhedor. Na cozinha, Dona Maria, com seus cabelos prateados que reluziam à luz morna da tarde e olhos que guardavam um mundo de histórias, preparava a sua receita favorita: café. O aroma encorpado do café fresco começava a se espalhar pela casa, trazendo com ele uma onda de lembranças de tempos idos.
De repente, o sino da porta tocou, trazendo um sorriso ao rosto de Dona Maria. Era João, seu neto, que a visitava religiosamente todas as tardes. Ele entrou com um sorriso radiante e um abraço apertado que a fazia sentir-se tão amada. Sentaram-se à mesa e, com gestos carinhosos, ela serviu o café fumegante, acompanhando-o com biscoitos caseiros que exalavam o conforto do lar.
Enquanto conversavam, João contava com entusiasmo sobre suas aventuras na escola, os amigos novos que fizera e os sonhos que o aguardavam no futuro. Dona Maria ouvia cada palavra com atenção, seus olhos brilhando de orgulho e amor. Compreendia que o tempo voava e que cada instante ao lado de João era um tesouro que valia a pena guardar.
A tarde passava lentamente, e o sol, em sua descida, parecia pintar o horizonte com tons cada vez mais profundos. Quando chegou a hora da despedida, João beijou a testa da avó, prometendo voltar no dia seguinte. Dona Maria permaneceu à mesa, olhando fixamente para a xícara de café vazia, sentindo um misto de saudade e gratidão. Saudade pelos momentos que já haviam passado e gratidão por aqueles que ainda teria.
Levantou-se, guardou as xícaras e se dirigiu até a janela. Observou as estrelas começando a brilhar no céu profundo, como se cada uma delas fosse uma lembrança cintilante. E, num gesto de paz, sorriu, sabendo que, apesar do tempo que avança sem compaixão, as memórias e o amor que compartilhava com a sua família permaneceriam eternamente.
Autor Lyu Somah
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
Ele fechou os olhos por um momento, deixando-se levar pelas lembranças. Pensou nos dias recentes, nas caminhadas pelo parque com seu cachorro, nas risadas compartilhadas com amigos em tardes chuvosas. Cada momento parecia mais vívido com o som da chuva como trilha sonora.
Mas não eram apenas as memórias recentes que vinham à tona. João se lembrou de sua infância, das brincadeiras na rua de terra batida, onde ele e seus amigos corriam descalços, sentindo a lama entre os dedos. Lembrou-se de sua mãe chamando-o para dentro, preocupada que ele pegasse um resfriado, e do cheiro de bolo de fubá que sempre o esperava na cozinha.
A chuva tinha esse poder sobre ele, de trazer à superfície as lembranças mais queridas e os sentimentos mais profundos. João abriu os olhos e sorriu, sentindo-se grato por cada momento vivido, por cada gota de chuva que o ajudava a lembrar que a vida, com todas as suas simplicidades e complexidades, era bela.
sexta-feira, 10 de maio de 2024
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Ao sair de casa, já me sentia estranhamente otimista, como se o universo tivesse decidido cooperar comigo por uma vez. E olha que até o semáforo decidiu ficar verde assim que me aproximei! "É meu dia de sorte!", pensei, sorrindo para os pedestres que me olhavam curiosos.
Na padaria, ao pedir meu café, a simpática atendente me deu um pãozinho de cortesia. "Para um cliente tão sorridente, é por conta da casa!", disse ela com um sorriso cativante.
E quando cheguei ao trabalho, adivinha só? O chefe estava de bom humor! Ele até me deu um tapinha nas costas e disse: "Bom dia, você está radiante hoje! Vamos fazer uma reuniãozinha rápida só para alinhar as coisas?" Eu quase caí para trás de espanto, mas claro, concordei animadamente.
Durante a reunião, até as sugestões mais absurdas foram recebidas com aplausos e elogios. "Genial, Fabiana! Nunca tinha pensado nisso!" exclamou o chefe, enquanto todos os colegas batiam palmas.
Ao sair do trabalho, ainda flutuando em nuvens de felicidade, decidi parar em uma lanchonete para matar a fome. E quem estava lá? Minha crush da faculdade! "Oi, você por aqui?" ela perguntou, com um sorriso encantador. "Por acaso, sim! Quer compartilhar uma mesa?" respondi, tentando disfarçar o nervosismo.
E assim, entre risadas e trocas de olhares, minha manhã incrível continuou. Às vezes, o universo decide nos dar uma trégua e nos presentear com dias assim, onde tudo parece conspirar a nosso favor. E quem sou eu para reclamar? Afinal, hoje é o meu dia de sorte!
Autor Lyu Somah
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
— Já vou, Claudiane! — respondi no mesmo tom.












