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domingo, 2 de fevereiro de 2025

domingo, fevereiro 02, 2025

A praça das memórias: Um lugar atemporal

Era uma manhã ensolarada, daquelas em que o ar fresco da primavera dançava entre as árvores, trazendo consigo o canto dos pássaros e o cheiro doce de flores. Maria sentou-se em um banco de madeira desgastada da Praça Central, seu refúgio favorito na cidade, um espaço simples, mas repleto de vida e história. Hoje, ela queria apenas observar o mundo ao seu redor, tentando encontrar um sentido nas pequenas coisas.

Crianças corriam, rindo e brincando com uma bola colorida, enquanto cães se atrapalhavam em suas próprias brincadeiras. Casais trocavam olhares cúmplices, compartilhando segredos murmurados que só eles podiam entender. A padaria próxima exalava o cheiro irresistível de pão quente, convidando todos a parar por um instante, como se o tempo pudesse ser congelado.

Enquanto observava a cena, Maria se permitiu mergulhar nas memórias que aquele lugar guardava. Cada canto da praça lembrava risadas e lágrimas. Ali, ela havia celebrado a amizade, rido até a barriga doer e também chorado em momentos de desilusão. A Praça, com suas árvores cheias de folhas, era um pequeno mundo da vida, onde a alegria e a tristeza se entrelaçavam como as folhas ao vento.

Hoje, no entanto, Maria se sentia mais sozinha do que de costume. Seu pensamento oscilava entre a nostalgia de um amor antigo — aquele que iluminava seus dias e tornava cada instante significativo — e a realidade de sua solidão atual. Lembrava-se dos dias em que ele a levava àquela mesma praça, fazendo promessas de um futuro glorioso enquanto contavam histórias sob o calor do sol. “Um dia, vamos viajar pelo mundo”, ele dizia, seus olhos brilhando com a empolgação do que estava por vir.

Subitamente, o transe de suas memórias foi interrompido por um senhor de cabelos brancos que se aproximou. Ele carregava uma cesta de frutas frescas, com suas mãos enrugadas e cheias de vida. Com um sorriso gentil, ele cumprimentou Maria. “Bom dia, senhora! A vida é feita de pequenos momentos, não acha?”

Surpreendida, mas intrigada, Maria sorriu de volta. “Sim, com certeza. Às vezes, esses momentos parecem mais importantes do que os grandes eventos que planejamos.”

O senhor concordou, seus olhos azuis refletindo uma sabedoria adquirida ao longo dos anos. “Exatamente. Eu costumava vir aqui todos os dias com minha esposa, Rosa. Agora, vem apenas a lembrança dela, mas ainda assim sinto sua presença em cada canto desta praça.”

Uma onda de empatia invadiu o coração de Maria. “Desculpe por sua perda. Deve ser difícil lidar com isso.”

“É, mas aprendi que o amor nunca se vai completamente,” ele respondeu, com um leve sorriso nostálgico. “Ele se transforma, se adapta. E cada vez que venho aqui, revejo um pouco dela — um sorriso, um gosto, uma lembrança que me aquece a alma.”

Maria ficou tocada pela profundidade do que ouvia. Enquanto conversavam, o senhor continha suas memórias, como se cada palavra fosse um carinho que atravessava o tempo. Ele compartilhou histórias de uma vida repleta de aventuras ao lado de Rosa, dos desafios enfrentados e das alegrias compartilhadas — uma verdadeira celebração do amor que transcendeu a dor da perda.

À medida que o sol se movia pelo céu, Maria percebeu que aquela troca inesperada estava lhe trazendo consolo. O senhor não apenas falava de saudade, mas de como a vida continua, sempre cheia de novos capítulos e oportunidades. Ele a fez lembrar que, embora houvesse dor, havia também beleza nas memórias que formavam a história de suas vidas.

Quando ele se despediu, Maria sentiu-se diferente — como se uma luz suave tivesse iluminado sua alma. A saudade que carregava agora se misturava com a esperança. Levantou-se do banco, inspirando profundamente o ar fresco que tinha um novo sabor, e fez uma promessa a si mesma: era hora de abrir seu coração novamente, de acolher novas experiências e de deixar de ser prisioneira de um passado que, embora belo, não podia mais definir seu futuro.

Assim, com passos firmes, ela caminhou pela praça, decidida a acolher cada novo encontro, cada nova conexão, pronta para o que a vida poderia trazer. O sol brilhava mais intensamente, e com ele, a certeza de que o amor — em suas muitas formas — sempre encontraria um caminho para florescer.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

quarta-feira, dezembro 25, 2024

A vida não cabe em um feed

Era uma manhã como tantas outras quando Sofia percebeu que havia passado três horas seguidas rolando a tela do celular sem propósito algum. As notificações piscavam incessantemente: likes no Instagram, mensagens não lidas no WhatsApp, atualizações do LinkedIn cobrando mais uma conquista profissional. Seu café, agora frio na xícara, era testemunha silenciosa de mais uma manhã perdida no abismo digital.

Sofia trabalhava como analista de dados em uma startup promissora. Seu computador estava sempre aberto em múltiplas telas: planilhas, relatórios e um chat corporativo que nunca silenciava. A nova inteligência artificial da empresa prometia automatizar grande parte de seu trabalho – uma "revolução", segundo seu chefe. Mas a palavra "revolução" só aumentava sua insônia. Quantos como ela seriam "otimizados" para fora de seus empregos?

No intervalo do almoço, deslizou pelos dedos seu feed de notícias. "Novo vazamento de dados expõe informações de milhões", dizia uma manchete. Ao lado, uma propaganda personalizada oferecia exatamente o modelo de tênis que ela havia pesquisado na noite anterior. A coincidência digital já não a assustava mais – era apenas mais um lembrete de que sua privacidade há muito havia se tornado moeda de troca.

Seu armário transbordava de roupas com etiqueta, compradas em momentos de ansiedade durante madrugadas insones. O último relatório sobre mudanças climáticas que leu fazia seu consumismo parecer ainda mais pesado. "Fast fashion é uma das indústrias mais poluentes", lembrou-se, enquanto uma notificação anunciava uma nova liquidação imperdível.

No grupo da família, sua tia compartilhava mais uma notícia alarmante sobre vacinas. Sofia suspirou, lembrando-se das intermináveis discussões no último almoço de domingo, quando tentou explicar sobre checagem de fontes e desinformação. A verdade havia se tornado um conceito fluido, moldável conforme as bolhas digitais de cada um.
 
Seu relógio smart vibrou: "Você ainda não atingiu sua meta de passos hoje". A pressão por produtividade havia se infiltrado até mesmo em seu exercício físico. Nas redes sociais, influenciadores vendiam cursos sobre como otimizar cada segundo do dia. Dormir virou luxo, descansar virou preguiça, e existir se transformou em uma eterna competição por métricas.

À noite, entre um deslize e outro no aplicativo de relacionamento, Sofia se pegou pensando em como o amor havia se transformado em um catálogo digital. Perfis cuidadosamente curados, biografias otimizadas para algoritmos, e conexões que se desfaziam na mesma velocidade que se formavam. Seu último relacionamento terminou por WhatsApp – três meses de história resumidos em um emoji de coração partido.

Em sua mesa de trabalho, um post-it amarelado lembrava: "Reunião sobre trabalho remoto". A pandemia havia revolucionado os escritórios, e agora sua empresa discutia a possibilidade de se tornar completamente virtual. Liberdade ou isolamento? A linha entre casa e trabalho já não existia mais – seu quarto era seu escritório, sua sala era sua academia, e sua cozinha virou cenário para videoconferências.
 
Antes de dormir, Sofia se pegou editando uma foto do pôr do sol que havia tirado. Filtro, contraste, saturação – a busca pela imagem perfeita para seu feed. Quantas camadas de edição separavam a realidade da sua versão digital? Em suas redes sociais, sua vida parecia perfeitamente curada, cada momento cuidadosamente selecionado e editado. Mas por que aquela sensação de vazio não passava?
 
No espelho, longe das telas e filtros, Sofia encontrou seu reflexo verdadeiro. Olheiras de noites mal dormidas, marcas de expressão de preocupações reais, um sorriso genuíno ao receber uma mensagem de sua melhor amiga. Talvez a verdadeira revolução estivesse em redescobrir a autenticidade em um mundo que valoriza tanto as aparências. Deixou o celular no modo avião – hoje, decretou, seria um dia analógico.

A crônica da modernidade se escreve diariamente em gigabytes de informação, stories efêmeros e conexões virtuais. Entre teclas e telas, ainda somos humanos buscando significado, tentando equilibrar o progresso com nossa essência mais básica: a necessidade de conexões reais, de tempo para respirar, de espaço para simplesmente ser.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

quarta-feira, dezembro 11, 2024

Quando a arte e a docência se entrelaçam

Na pequena cidade de Vila Esperança, o outono se despedia com um espetáculo de cores. As folhas das árvores, uma vez verdes e vibrantes, agora se transfiguravam em tons quentes de laranja, vermelho e amarelo, como se o próprio céu tivesse descido ao chão apenas para celebrar a mudança da estação. O ar fresco trazia consigo o cheiro de terra molhada, resultado das chuvas que caíam esporadicamente, criando poças que refletiam as nuvens e o colorido do arvoredo.

No centro da cidade, a vida pulsava em um ritmo tranquilo. O coreto na praça, cercado por bancos de madeira envelhecidos, era o ponto de encontro dos moradores. Ali, costumavam se revezar mesas de dominó e baralhos de truco, enquanto os mais jovens se divertiam com bicicletas e risos. Um pequeno café, "Cafeteria do Marco", exalava aromas de café fresco e bolos recém-saídos do forno. O entusiasmo do barista, um homem de meia-idade com um sorriso fácil e cabelos grisalhos, atraía os clientes como abelhas ao mel.

No interior da cafeteria, estava Ana, uma professora de história que dedicava suas tardes a corrigir provas e planejar aulas. Ela era uma mulher de estatura média, cabelos castanhos desgrenhados e óculos de armação leve que escorregavam pelo nariz a cada vez que ela se inclinava sobre os papéis. Seu olhar, gentil, mas intenso, revelava a paixão pelo ensino e o cuidado com os alunos. Ana sonhava em vivenciar aventuras que não se limitassem às páginas de livros, mas, por enquanto, a sua realidade era repleta de desafios diários, como lidar com a falta de motivação dos adolescentes e as intermináveis reuniões de pais.

Do lado oposto da sala, sentado em uma mesa próxima à janela, estava Miguel. Ele era um artista solitário, com cabelos longos e desgrenhados, usando uma jaqueta de couro que já havia visto dias melhores. Suas mãos estavam manchadas de tinta, fruto de suas últimas obras. Os olhos de Miguel eram profundos, como um lago misterioso, preenchidos com a tristeza de quem já havia amado intensamente e perdido ainda mais. Ele se dedicava a retratar a beleza fugaz da cidade em suas telas, mas, por dentro, enfrentava a batalha contra a solidão que o preenchia.

Aquela tarde de outono parecia eterna. O céu estava adornado com nuvens cinzentas, que prometiam mais chuva, mas o sol ainda se esforçava para brilhar. Ana, após corrigir algumas provas, decidiu fazer uma pausa. Olhou pela janela e viu Miguel, suas mãos trabalhando rapidamente, como se estivesse tentando capturar um momento antes que desaparecesse. Algo na intensidade do seu esforço a cativou.

Tomando coragem, Ana se levantou e se aproximou dele. “Posso ver o que está pintando?” perguntou, com um sorriso tímido. Miguel a olhou com surpresa, mas ao ver a curiosidade em seu olhar, acenou com a cabeça. Ela se inclinou sobre a tela e ficou fascinada. Era uma paisagem da praça, mas com uma perspectiva artística que transformava o cotidiano em algo mágico.

“É lindo,” disse Ana, admirando as pinceladas que pareciam dançar sobre o tecido. “Consegue fazer isso parecer tão vivo.”

Miguel sorriu, embora seu olhar carregasse uma sombra de melancolia. “Eu tento... mas às vezes, a vida e a arte não se encontram como gostaríamos.”

A conversa fluiu naturalmente, como um riacho em meio à floresta. Eles falaram sobre arte, sonhos não realizados e as pequenas alegrias que a vida em Vila Esperança proporcionava. Ana compartilhou suas frustrações como professora, enquanto Miguel desabafava sobre a solidão e a busca por inspiração.

Ao cair da tarde, a chuva começou finalmente a cair, criando um som suave que se misturava ao aroma do café e ao calor da conversa. As gotas de chuva tamborilavam nas janelas como se estivessem aplaudindo a conexão que surgia entre os dois. Em um momento de empatia compartilhada, ambos perceberam que, de alguma forma, a arte e o ensino estavam entrelaçados na busca por tocar as vidas dos outros.

A hora de fechar a cafeteria chegou, mas a nova amizade estava apenas começando. Miguel propôs um encontro semanal no café. Ana, com um brilho nos olhos, aceitou sem hesitar. O ciclo de suas vidas se entrelaçava como as folhas caindo das árvores, cada uma única, mas todas partes da mesma dança da vida.

E assim, naquela última tarde de outono, Vila Esperança não era apenas uma cidade qualquer; era o cenário da união de dois mundos que, antes separados, agora se encontravam na arte e na amizade. As folhas continuariam a cair, a chuva a encher as poças, mas o calor daquela conexão permaneceria nas memórias de um outono que prometia renovações e novas esperanças.

sábado, 23 de novembro de 2024

sábado, novembro 23, 2024

O encantador jardim da sra. Luzia

Luzia era uma senhora de cabelos brancos e olhos brilhantes que vivia em uma pequena casa no fim de uma rua tranquila. Sua maior paixão era o jardim que cultivava com tanto carinho. Todas as manhãs, ela se levantava antes do sol, regava as plantas e conversava com cada flor como se fossem velhas amigas.

Luzia acreditava que as plantas podiam sentir o amor que ela lhes dedicava, e isso fazia seu jardim florescer de uma maneira única. Os pássaros e borboletas pareciam preferir o seu jardim ao de qualquer outra casa da vizinhança, talvez atraídos pela magia que cobria aquele pedaço de terra.

Um dia, enquanto cuidava de suas rosas, Luzia encontrou uma pequena semente que parecia diferente de todas as outras. Curiosa e com o coração cheio de esperança, ela decidiu plantá-la em um canto especial do jardim, onde pudesse observar seu crescimento de perto. Com o tempo, a semente germinou e cresceu, revelando uma planta com flores de cores que Luzia nunca tinha visto antes — eram de um azul cintilante que parecia capturar a luz do amanhecer.

O pequeno jardim de Luzia logo se tornou uma atração na vizinhança. Pessoas vinham de todos os lados para admirar a misteriosa flor azul. As crianças riam e brincavam ao redor do jardim, enquanto os adultos se maravilhavam com a beleza e o mistério daquela planta única. Luzia sempre recebia os visitantes com um sorriso caloroso e uma história sobre como cada planta do jardim tinha um lugar especial em seu coração.

Certa manhã, um jovem repórter veio entrevistar Luzia sobre seu jardim. Ele perguntou o segredo por trás de tanta beleza. Luzia, com um sorriso sereno, respondeu: “O segredo é simples: é o amor. Cada planta, cada flor, responde ao cuidado e à atenção que lhes damos. Esse jardim é um reflexo de todas as pequenas gentilezas e momentos de paciência ao longo dos anos.”

Inspirado pela história de Luzia, o repórter escreveu um artigo que se espalhou rapidamente pela cidade e além. Pessoas de todos os lugares começaram a enviar cartas a Luzia, agradecendo-lhe por compartilhar a sabedoria e o amor que ela cultivava em seu pequeno jardim. Muitos decidiram seguir seu exemplo e começaram a cuidar de seus próprios jardins com mais dedicação e carinho.

Com o passar do tempo, Luzia viu não apenas seu próprio jardim florescer, mas também a transformação que ele trouxe para a comunidade ao seu redor. As pessoas começaram a se reunir mais, compartilhando histórias e sementes, criando uma rede de jardins que se estendia por toda a cidade.

E assim, de uma pequena semente, nasceu um legado de amor e cuidado que floresceu e tocou a vida de muitos. O jardim de Luzia não era apenas um lugar de beleza, mas um símbolo do poder das pequenas ações de amor e gentileza que podem transformar o mundo.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

terça-feira, novembro 12, 2024

Entre xícaras e lembranças

Era uma daquelas tardes mágicas de outono, quando o sol, cansado de brilhar, se despedia mais cedo, tingindo o céu de um laranja suave e acolhedor. Na cozinha, Dona Maria, com seus cabelos prateados que reluziam à luz morna da tarde e olhos que guardavam um mundo de histórias, preparava a sua receita favorita: café. O aroma encorpado do café fresco começava a se espalhar pela casa, trazendo com ele uma onda de lembranças de tempos idos.

Sentada à mesa, ela olhava pela janela e observava a dança das folhas que, num balé lento e gracioso, deslizavam das árvores em direção ao chão. Em seu coração, as memórias de dias felizes se aglomeravam, quando seus filhos corriam pelo quintal, suas risadas ecoando como música. Agora, a casa estava envolta em um silêncio sereno, quebrado apenas pelo tic-tac do relógio de parede e o canto distante dos pássaros que se acomodavam para a noite.


De repente, o sino da porta tocou, trazendo um sorriso ao rosto de Dona Maria. Era João, seu neto, que a visitava religiosamente todas as tardes. Ele entrou com um sorriso radiante e um abraço apertado que a fazia sentir-se tão amada. Sentaram-se à mesa e, com gestos carinhosos, ela serviu o café fumegante, acompanhando-o com biscoitos caseiros que exalavam o conforto do lar.

Enquanto conversavam, João contava com entusiasmo sobre suas aventuras na escola, os amigos novos que fizera e os sonhos que o aguardavam no futuro. Dona Maria ouvia cada palavra com atenção, seus olhos brilhando de orgulho e amor. Compreendia que o tempo voava e que cada instante ao lado de João era um tesouro que valia a pena guardar.

A tarde passava lentamente, e o sol, em sua descida, parecia pintar o horizonte com tons cada vez mais profundos. Quando chegou a hora da despedida, João beijou a testa da avó, prometendo voltar no dia seguinte. Dona Maria permaneceu à mesa, olhando fixamente para a xícara de café vazia, sentindo um misto de saudade e gratidão. Saudade pelos momentos que já haviam passado e gratidão por aqueles que ainda teria.

Levantou-se, guardou as xícaras e se dirigiu até a janela. Observou as estrelas começando a brilhar no céu profundo, como se cada uma delas fosse uma lembrança cintilante. E, num gesto de paz, sorriu, sabendo que, apesar do tempo que avança sem compaixão, as memórias e o amor que compartilhava com a sua família permaneceriam eternamente.


Autor Lyu Somah

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

quarta-feira, novembro 06, 2024

Reflexões em uma tarde chuvosa

João sempre gostou de dias chuvosos. Desde criança, a chuva trazia consigo uma sensação de paz e renovação. Naquela tarde, ele estava parado diante da janela do quarto, observando as gotas de água que caíam lá fora. As gotas deslizavam pelo vidro, criando pequenos rios que se encontravam e se separavam, como as memórias em sua mente. O cheiro de terra molhada invadia o ambiente, trazendo consigo uma onda de nostalgia.


Ele fechou os olhos por um momento, deixando-se levar pelas lembranças. Pensou nos dias recentes, nas caminhadas pelo parque com seu cachorro, nas risadas compartilhadas com amigos em tardes chuvosas. Cada momento parecia mais vívido com o som da chuva como trilha sonora.

Mas não eram apenas as memórias recentes que vinham à tona. João se lembrou de sua infância, das brincadeiras na rua de terra batida, onde ele e seus amigos corriam descalços, sentindo a lama entre os dedos. Lembrou-se de sua mãe chamando-o para dentro, preocupada que ele pegasse um resfriado, e do cheiro de bolo de fubá que sempre o esperava na cozinha.

A chuva tinha esse poder sobre ele, de trazer à superfície as lembranças mais queridas e os sentimentos mais profundos. João abriu os olhos e sorriu, sentindo-se grato por cada momento vivido, por cada gota de chuva que o ajudava a lembrar que a vida, com todas as suas simplicidades e complexidades, era bela.

Autor Lyu Somah

sexta-feira, 10 de maio de 2024

sexta-feira, maio 10, 2024

O delicioso sabor da Nostalgia

Num domingo preguiçoso, o aroma de bolo de cenoura invadiu a casa, despertando lembranças há muito adormecidas. O cheiro, doce e reconfortante, flutuava pelo ar, como uma canção suave que ecoava pelos corredores e reavivava memórias felizes.
"Ah, que cheirinho maravilhoso!" exclamou minha avó, com um sorriso de contentamento ao abrir o forno.
Aproximei-me, sentindo-me envolvido por uma onda de nostalgia. "Lembra quando fazíamos esse bolo juntos, vovó?" perguntei, me perdendo nos recantos do tempo.
Ela assentiu, os olhos brilhando com a lembrança. "Como poderia esquecer? Você sempre foi meu pequeno ajudante na cozinha."
Juntos, mergulhamos naquelas lembranças preciosas. Misturamos os ingredientes com cuidado, compartilhando histórias e risadas enquanto o aroma delicioso se espalhava pela casa, enchendo cada canto com promessas de conforto e alegria.
"É incrível como um simples cheiro pode nos transportar para o passado, não é?" comentei, sentindo-me aquecido por dentro.
Minha avó concordou, um brilho de saudade nos olhos. "Sim, querido. Os sabores e aromas têm esse poder mágico de despertar emoções e memórias que pareciam perdidas no tempo."
Enquanto mordíamos os pedaços macios de bolo, cada mastigação era acompanhada por um coro de lembranças. Recordamos os dias de verão na casa da avó, onde o aroma de delícias recém-saídas do forno era uma constante.
"Você sempre teve um talento especial para fazer esse bolo", elogiei, saboreando a textura macia e os pedaços de cenoura que derretiam na boca.
Ela riu, uma risada suave que parecia carregar consigo todo o peso dos anos de experiência. "Ah, meu querido, a receita é simples. Mas é o amor que torna tudo mais especial."
Enquanto conversávamos e nos deliciávamos com cada garfada, o tempo parecia desacelerar. É como se estivéssemos em um momento intemporal, onde o presente se misturava com o passado em uma dança harmoniosa de sabores e memórias.
Ao final da tarde, com os pratos vazios e os corações cheios, olhei para minha avó com gratidão. "Obrigado por compartilhar esses momentos comigo, vovó. E por me ensinar que a verdadeira magia está nos pequenos prazeres da vida."
Ela sorriu, um sorriso que iluminava todo o cômodo. "O prazer foi todo meu, querido. Sempre que quiser relembrar esses momentos, basta assar um bolo de cenoura e deixar que os aromas nos levem de volta ao passado."
E assim, com o coração cheio de lembranças doces como o bolo que compartilhamos, saí da casa da minha avó, sabendo que aquele dia se tornaria uma memória preciosa a ser guardada para sempre, como um tesouro escondido nas gavetas da minha mente.
Autor Lyu Somah

segunda-feira, 29 de abril de 2024

segunda-feira, abril 29, 2024

Um dia radiante: Quando tudo deu certo

Em uma manhã de sol radiante, daquelas que parecem ter saído diretamente de um comercial de margarina, algo mágico aconteceu. Eu acordei, e o despertador decidiu, por uma vez na vida, não me acordar com aquele som estridente digno de despertar até os mortos.

Ao sair de casa, já me sentia estranhamente otimista, como se o universo tivesse decidido cooperar comigo por uma vez. E olha que até o semáforo decidiu ficar verde assim que me aproximei! "É meu dia de sorte!", pensei, sorrindo para os pedestres que me olhavam curiosos.

Na padaria, ao pedir meu café, a simpática atendente me deu um pãozinho de cortesia. "Para um cliente tão sorridente, é por conta da casa!", disse ela com um sorriso cativante.

E quando cheguei ao trabalho, adivinha só? O chefe estava de bom humor! Ele até me deu um tapinha nas costas e disse: "Bom dia, você está radiante hoje! Vamos fazer uma reuniãozinha rápida só para alinhar as coisas?" Eu quase caí para trás de espanto, mas claro, concordei animadamente.

Durante a reunião, até as sugestões mais absurdas foram recebidas com aplausos e elogios. "Genial, Fabiana! Nunca tinha pensado nisso!" exclamou o chefe, enquanto todos os colegas batiam palmas.

Ao sair do trabalho, ainda flutuando em nuvens de felicidade, decidi parar em uma lanchonete para matar a fome. E quem estava lá? Minha crush da faculdade! "Oi, você por aqui?" ela perguntou, com um sorriso encantador. "Por acaso, sim! Quer compartilhar uma mesa?" respondi, tentando disfarçar o nervosismo.

E assim, entre risadas e trocas de olhares, minha manhã incrível continuou. Às vezes, o universo decide nos dar uma trégua e nos presentear com dias assim, onde tudo parece conspirar a nosso favor. E quem sou eu para reclamar? Afinal, hoje é o meu dia de sorte!

Autor Lyu Somah

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

quinta-feira, agosto 23, 2018

A janela - Um escape em dias cinzentos

São, exatamente, 22h23, e aqui estou eu na janela desse quarto, mas tudo bem pra mim, é meu escape em dias cinzentos. Tudo é tão calmo visto daqui, às vezes o silêncio envolve a noite, mas hoje não, posso ouvir bem longe o canto de um pássaro. Lá fora, visto aqui da janela, parece outro mundo, diferente desse do qual me sufoca todos os dias.
Imagine que a janela do quarto é como uma pessoa que te encanta apenas te olhando nos olhos, você fica ali, imóvel, apenas olhando fixamente pra ela, enquanto ela conduz sua mente e você se desprende de si mesmo. Através da janela você é conduzido à um mergulho em sua mente.
Aqui dessas grades enferrujadas posso contar nos dedos as nuvens que vejo, parecem desfilar nessa imensidão escura do céu.
E lá está o passarinho pousado no fio do poste, cantando timidamente e sem dar a mínima para o frio insuportável que está fazendo. O vento é quase imperceptível, ainda assim, a leve brisa balança as rabiolas de pipas enroscadas nos fios; minhas orelhas estão congeladas.
Minha vizinha, Claudiane, está me gritando lá fora.
— Vai dormir, Ana!
 — Já vou, Claudiane! — respondi no mesmo tom.
Claudiane é daquelas vizinhas que sabe o CPF de todos os moradores do bairro, se é que você consegue me entender. De manhã, nem preciso ligar a TV pra assistir o noticiário, basta pegar um café e aparecer na porta que o jornal começa.
Claudiane acharia engraçado, ou até me chamaria de maluca se soubesse o que faço aqui na janela, se ouvisse minha mente, mas é algo que faço com frequência, pra sair dessa realidade do dia a dia. Como eu disse: “É meu escape em dias cinzentos”. Eu preciso, e acredito que todos nós precisamos de um escape, seja ele qual for, só precisa nos desligar por alguns minutos, talvez horas, e nos levar para um lugar onde podemos encontrar com nós mesmos, achar nossa paz, nossa alegria, nossa essência perdida.
Bem. Agora preciso voltar à tona e fechar a janela. Tenho compromisso às 4:26h da manhã, com minha insônia.
Por Lyu Somah

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