O que é o escudo de Chernobyl e por que ele é essencial
Após o desastre nuclear de 26 de abril de 1986, que destruiu o reator 4 da usina de Chernobyl, foi construída uma estrutura provisória (o sarcófago soviético) para conter os resíduos radioativos.
Com o tempo, percebeu-se que aquela contenção não era segura para sempre, condições climáticas e degradação exigiam algo mais robusto.
Em 2016 teve início a construção do New Safe Confinement (NSC), uma cúpula metálica gigantesca e articulada, concluída em 2019, projetada para conter a radiação por pelo menos 100 anos, impedir a dispersão de material radioativo e permitir a descontaminação do local.
O NSC cobria o reator destruído e funcionava como última barreira de segurança, protegendo a região e garantindo que resíduos como poeira nuclear ou gases tóxicos não escapassem para o ambiente externo.
O ataque de 2025 e os danos detectados
Na madrugada de 14 de fevereiro de 2025, um drone com ogiva explosiva atingiu o teto da estrutura de contenção da usina, provocando explosão e incêndio no revestimento externo da cúpula, segundo autoridades ucranianas que atribuem a ação a forças russas.
Apesar de o fogo ter sido contido e, naquele momento, não ter sido detectado aumento nos níveis de radiação ao redor, o impacto danificou seriamente o escudo protetor.
Em dezembro de 2025, uma inspeção da IAEA concluiu que a estrutura “perdeu suas funções de segurança primárias, incluindo a capacidade de contenção de radiação”.
Embora os elementos estruturais de sustentação e os sistemas de monitoramento ainda estejam intactos, a agência alerta: é urgente uma restauração completa para prevenir danos futuros ou vazamentos.
O que isso significa, riscos e cenário atual
- Com a função de confinamento comprometida, há risco de liberação de partículas radioativas ou gases nocivos, principalmente se houver chuva, vento, desgaste estrutural ou novas agressões.
- Até o momento, nenhum vazamento foi confirmado, os níveis de radiação seguem estáveis.
- Mas especialistas alertam que consequências podem surgir no longo prazo; chuva, infiltrações e corrosão interna da estrutura podem agravar a situação.
- O risco não é apenas local: ventos ou chuvas intensas poderiam dispersar poeira nuclear para regiões mais amplas. Europa já sentiu impactos do desastre de 1986.
Além do perigo ambiental, há um alerta geopolítico e humanitário: o reator destruído e a estrutura danificada ficam em uma zona de conflito, o que aumenta o risco de novos ataques e faz do local um ponto sensível para toda a comunidade internacional.
O que dizem autoridades e especialistas
Para a IAEA, embora componentes essenciais como vigas e sistemas de monitoramento estejam preservados, a perda da contenção coloca o local sob risco real, e a prioridade máxima é realizar reparos completos antes que mais danos estruturais ou climáticos surjam.
Representantes da Ucrânia apontam que o ataque foi uma “ameaça global” e pedem apoio internacional para reconstrução e financiamento da restauração.
Para analistas de segurança nuclear, este é um dos piores cenários possíveis após o desastre de 1986, um reator destruído, mas supostamente selado. A falha da contenção obriga o mundo a revisitar os dilemas da energia nuclear, guerra e segurança global.
O que observar nos próximos meses
- Se a IAEA ou autoridades ucranianas detectarem aumento na radiação do entorno.
- Relatórios independentes de monitoramento atmosférico e solo.
- Condições climáticas extremas (chuvas fortes, tempestades) que podem agravar infiltrações.
- Evolução da guerra: novos ataques ou conflitos podem agravar os danos.
- Mobilização internacional para reparos e financiamento da reconstrução do escudo.
O escudo de aço que durante quase quatro décadas garantiu que o desastre de 1986 não se repetisse está hoje comprometido e a negligência ou demora na restauração pode transformar um fantasma histórico em uma tragédia atual.
Mais do que uma parte da história, Chernobyl volta a ser símbolo de um risco global: radiação, guerra e vulnerabilidade. O mundo precisa olhar para isso com urgência, para que uma catástrofe nunca mais se repita.
Conteúdo elaborado por Lyu Somah, com base em informações de IAEA, Euronews, Reuters, The Guardian, Al Jazeera, IFLScience, Dawn e O Povo.













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